segunda-feira, 12 de junho de 2017

O preço da falta de experiência

Quando decidiu voltar ao futebol como treinador, Rogério Ceni provavelmente não sabia de fato com o que iria lidar. Sem nenhuma experiência como técnico ou auxiliar de nenhuma categoria, o ídolo são-paulino apostou desde o início que os conhecimentos aprendidos como jogador, a influência de alguns treinadores com os quais trabalhou e três meses de curso na Federação Inglesa de Futebol lhe dariam a base teórica necessária para desempenhar sua função. Na parte prática, por outro lado, o inglês Michael Beale daria o suporte necessário para que ideias se tornassem realidade. E quais eram essas ideias?  Em sua coletiva de apresentação, Ceni disse:

"Minha intenção é jogar ofensivamente, pressionando, buscando o gol. É claro que em alguns jogos podemos fazer ajustes diferentes. Mas vou me adaptar ao que tiver à disposição."

Depois, ao vencer o Santos afirmou:

"A proposta que eu sempre tive na minha cabeça é de jogar para ganhar. Você corre risco, sofre, mas jogando para frente. Jogar para trás, aí abro mão da profissão. Porque gosto de desafios, já fiquei muito tempo atrás"

E ainda adicionou:

"Passa sustos, sim, sofre gols, sim, mas é uma filosofia que eu acredito. Acho que os jogadores e os torcedores têm muito mais prazer com o jogo dessa maneira".



A ideia estava clara, restava a aplicação e o São Paulo falhou nesse segundo quesito. Nas primeiras rodadas do Paulistão ficou nítido que o time montado no 4-3-3, que construía com sete no campo de ataque, que abria laterais para amplitude, subia os três de meio e tinha três na frente, não executava um plano definido quando perdia a bola. Ao ficar sem o domínio da mesma, poucos atletas corriam rapidamente em direção à bola, alguns retornavam para suas posições e os zagueiros quase sempre corriam para trás, convidando os atacantes a carregarem a bola e definirem as jogadas. Ou seja: cada setor do campo fazia uma coisa distinta e com atletas espaçados entre si a defesa foi consagrando os ataques adversários. 


Não foram raras as vezes em que o São Paulo perdeu partidas por causa desse momento do jogo, algo que foi mitigado pela entrada de Jucilei na vaga de João Schmidt. O problema é que, aos poucos, seja por uma postura ligeiramente mais cautelosa com a bola, seja pelo desfalque de Cueva, ou pelos erros mais frequentes na tomada de decisão no ataque, o tricolor parou de ser o time perigoso de outrora e se tornou a equipe do cruzamento para área. 


Foram dezenas contra Corinthians nas duas semifinais do Paulista e no primeiro jogo contra o Cruzeiro pela Copa do Brasil o que, aliado aos erros de transição defensiva, resultaram em eliminações seguidas. Vale dizer: Ceni procurou os cruzamentos de propósito ao colocar Gilberto e Pratto juntos em todos os momentos de aperto e ao insistir com Cícero e Jucilei juntos, montando um time de pouca mobilidade e muita ligação direta. Há que se ressaltar, no entanto, a grande partida feita pelo tricolor no Mineirão contra o Cruzeiro. Ali o São Paulo esteve muito próximo de ser o time que Rogério Ceni imaginava e talvez um Cueva ligeiramente mais inspirado pudesse ter dado a vaga à equipe do Morumbi.




Fora das duas competições e com mais tempo para treinar, era esperada uma evolução coletiva do São Paulo na execução das ideias imaginadas pelo técnico, ou seja, um time que criasse com movimentação de seu trio de volantes, com o meia aberto pelo lado centralizando  as jogadas e com os laterais passando em projeção para chegar ao fundo e cruzar com qualidade. Era esperado também um time que defendesse pressionando imediatamente após a perda da bola, que subisse as linhas para sufocar o adversário fazendo linha de impedimento para ter todos os setores sempre juntos e que soubesse se portar quando a pressão inicial não desse resultado.


Contra o Defensa y Justicia, no entanto, os erros foram os mesmos. Muitos cruzamentos, nenhuma ideia com a bola no pé a terceira eliminação, desta vez em casa com um empate por 1 a 1.  


O duro golpe fez Rogério ser amplamente contestado pela imprensa, o que parece ter levado o treinador a rever conceitos. Assim, em vez de tentar fazer o time acertar a execução do que estava errado, Ceni deu dois passos para trás. Na estreia no Brasileirão contra o Cruzeiro o São Paulo alinhou com três zagueiros e deu a bola para os mineiros. Depois de um primeiro tempo razoável, Maicon errou lá atrás e o tricolor não teve força alguma para buscar a igualdade. Contra o Avaí voltou o esquema com dois zagueiros e voltou a vitória, desta vez com lançamento de Cícero da intermediária que achou Marcinho e que serviu Pratto e com Luiz Araújo aos trancos e barrancos empurrando para as redes. Diante do Palmeiras, mesmo em casa, o tricolor deu a bola para o adversário e venceu nos contragolpes, enquanto contra a Ponte Preta o erro defensivo que deu o 1 a 0 ao adversário foi fatal, com o time novamente inofensivo ao sair em desvantagem. 




Diante do Vitória, o tricolor teve três zagueiros de novo, mas só chegou ao gol quando voltou ao 4-2-3-1 e apertou o time baiano lá em cima. E então chegamos ao clássico do último domingo, o jogo que marca o passo mais distante daquele modelo de jogo que Ceni queria implementar. Contra o Corinthians o treinador do São Paulo colocou três zagueiros, três volantes (Militão, Jucilei e Cícero) e dois centroavantes de área. Ou seja... Um time pesado, alto e talhado para jogar na bola parada e chutão pra longe. O próprio treinador revelou que a ideia era ganhar com jogadores altos. 




O resultado foi desastroso: o São Paulo tomou um vareio do Corinthians em 15 minutos. Com zagueiros lentos longe do próprio gol, sem pegada, com inferioridade numérica no meio e com dois centroavantes, o tricolor saiu perdendo com menos de dez minutos, jogando por terra toda a estratégia do treinador, que teve que mudar o esquema tático com bola rolando e que foi para o intervalo com o revés por 2 a 1. 



No segundo tempo o time melhorou um pouco, mas seguiu dando brechas na defesa e a derrota por 3 a 2 acabou sendo um bocado mentirosa: era pra ter sido mais para o Corinthians.  






Com três meses de estudo e seis de experiência, Ceni tateia no escuro em uma área que não domina ainda e na qual não tem bagagem para saber o que deve ser abandonado e o que pode ser mantido. Também por isso  o técnico do São Paulo vai vendo na prática o que consegue e o que não consegue fazer. O mais grave, no entanto, parece ser o fato de que o treinador tem dúvidas sobre o que quer do seu time. E quando sabe o que quer, ainda tem dificuldades para alinhar a ideia às características de seus jogadores. 

Um exemplo claro dessa falta de visão sobre quais são bons e maus intérpretes na execução das ideias é o caso Cícero. Lento, sem pegada no meio e com passes burocráticos o segundo, ora terceiro, volante do tricolor não tem nenhuma das características que poderiam fazer o São Paulo fluir ofensivamente e ser intenso defensivamente. Outro aparente julgamento equivocado do treinador foi a constante mudança de posicionamento de Thiago Mendes, que rende muito mais vindo de trás com a bola carregada, mas que foi por diversas vezes escalado como meia centralizado ou aberto pela direita, onde não tinha espaço para progredir. Da mesma maneira as inúmeras tentativas com Gilberto e Pratto, que apesar de voluntariosos não conseguem funcionar juntos. 

Alguns dirão que o motivo é o elenco ruim, algo que eu discordo visceralmente. 

Embora não tenha o melhor elenco do país, o São Paulo certamente tem o sexto ou sétimo melhor. Ou alguém aqui consegue cravar indubitavelmente que o Santos tem melhor elenco? Ou que a diferença do Corinthians para o São Paulo é muito grande? Quem tem melhores jogadores? Fluminense? Botafogo? Chapecoense? Ponte Preta? Coritiba?  


Tais times jogam mais porque estão mais versados no modelo de jogo empregado. O São Paulo após seis meses ainda erra demais e executa mal as ideias tanto do projeto inicial quanto da versão adaptada.  Há que se dizer: adaptar-se é algo bom e necessário em qualquer clube de futebol, mas executar melhor também é essencial. 

Ceni provavelmente vai aprender com o tempo como executar, o que abandonar e o que manter, mas é necessário pontuar: não é questão de jogador! O São Paulo está pagando e pagará o preço de ter um técnico em fase de aprendizado dirigindo o time.

3 comentários:

  1. Apenas um adendo: acredito que Rogério nunca será um técnico de verdade, pois peca pela mesma cartilha de nosso ex-técnico da seleção, a arrogância e a prepotência, como sempre.
    Não admite erros e sempre se esconde atrás de números enganosos (senão falsos) para encontrar alguma qualidade onde não existe.
    Se tivesse, e já sabemos que não tem e não busca, alguma humildade em retroceder e buscar conhecimento, talvez tivesse algum futuro.
    Temo pela perda do status de grande ídolo do SPFC.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Impressionante, parece que tudo foi escrito foi tirado da minha mente. Risos
    Sobre Cícero e TM, eu venho falando exatamente o que vc descreveu desde o clássico contra a SEP no paulista. Me pergunto como o Ceni n percebe isso? Eu q sei 1% de futebol analisei isso é o Ceni não. Desanimador!!!
    Leco usou o Ceni como bandeira p e se eleger é o ex goleiro em sua arrogância não e quis esperar terminar os estudos que se propôs a fazer, treinar algum time é somente bem depois assumir o SP.
    Na p ele estar lá, mas já que tá, vamos ver qual preço o clube vai pagar

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